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Mulheres em destaque na gestão integrada da propriedade rural

A zootecnista e técnica do Senar Pércia Rocha atua em 25 propriedades mineiras. Foto: Arquivo pessoal

Na semana do Dia Internacional da Mulher, trazemos uma matéria especial sobre a participação das mulheres no gerenciamento das propriedades rurais. Segundo dados do último Censo Agropecuário (2017) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 19% do total de estabelecimentos agropecuários no Brasil é gerido por mulheres – quase um milhão de 5,7 milhões de propriedades.

No Censo anterior, em 2006, o percentual era de 13%. Juntas, estas mulheres administram cerca de 30 milhões de hectares, o que corresponde a 8,5% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais do país.

Essa atuação feminina crescente no campo não passa despercebida nas estratégias do projeto FIP Paisagens Rurais. O objetivo do projeto é fortalecer a adoção de práticas de conservação e recuperação ambiental por meio de técnicas agrícolas de baixa emissão de carbono em bacias hidrográficas selecionadas no bioma Cerrado.

As ações serão implementadas em quatro mil propriedades rurais e a meta é ter 25% desse total representado por mulheres. Beneficiárias e beneficiários receberão Assistência Técnica e Gerencial (Ateg), prestada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), por um período de dois anos.

TÉCNICAS DE CAMPO

“O papel da mulher está cada vez mais em foco e com a pandemia precisamos pensar em transferir conhecimento para o produtor da forma mais segura possível. Temos metas, mas temos que pensar também na segurança e saúde de todo mundo”, declara Aline Saldanha, analista do Senar no Maranhão.

Aline Saldanha, analista do Senar no Maranhão. Foto: Divulgação Senar

Após experiência exitosa como gestora do projeto ABC Cerrado no Maranhão, Aline integra a equipe do projeto Paisagens Rurais no estado. Ela observa as dificuldades trazidas pela pandemia, mas ressalta a participação feminina. Em sua equipe de nove técnicos, três são mulheres.

No estado do Maranhão, duas bacias foram selecionadas para receber o projeto e cerca de 225 produtores já estão recebendo assistência técnica. Aline explica que, logo na abordagem inicial, as técnicas e técnicos do Senar apresentam os benefícios de participar do projeto, afirmando que não há como pensar em produção de alimentos sem pensar em sustentabilidade, em uma propriedade economicamente viável, trabalhando com o viés ambiental.

“Buscamos, com a transferência de tecnologia e de conhecimentos, levar o produtor a trabalhar com foco na conservação”, explica Aline. Para ela, a mulher que já atua de diversas formas no meio rural, vem ganhando seu espaço, enxergando a sua importância e seu valor.

“O meio rural está muito equilibrado com o urbano, cada vez mais informações chegam ao campo. Tem muita mulher envolvida na gerência, tocando a sua propriedade e buscando conhecimento. Basta olhar o perfil das universidades de ciências agrárias e verificar a procura cada vez maior de mulheres. Hoje, nas atividades de Ateg, procuramos estimular ainda mais essa participação”, afirma Aline.

Conhecendo essa realidade, o Senar possui atualmente 46 supervisoras e 601 técnicas de campo no atendimento aos produtores que recebem assistência em todo o país. É o caso da Pércia Rocha, zootecnista e técnica do Senar em Minas Gerais.  Ela explica que, das 25 propriedades em que presta atendimento, cinco estão registradas no nome da mulher, mas que em muitos imóveis, mesmo sem ser a proprietária oficial, a mulher é muito participativa.

ATIVIDADE FAMILIAR

Em suas atividades, Pércia Rocha afirma que existe grande aceitação dos produtores e que muitos proprietários reconhecem a importância de receber a assistência, seja de um técnico ou técnica. Para ela, é natural o envolvimento de todos os membros da família nas atividades da propriedade. Os pequenos produtores de leite compõem a maioria dos assistidos por ela.

“As propriedades que atendo se enquadram na agricultura familiar e é importante ter essa sensibilidade. Nos esforçamos para envolver a mulher no trabalho, para ela acompanhar as nossas atividades. Os proprietários entendem isso e sabem que temos um conhecimento que pode trazer mudanças e melhorar a produção ali. Ainda que muitas propriedades estejam cadastradas no nome do produtor, há muitas mulheres que participam de tudo, acompanham desde os serviços feitos a campo como coleta de solo para análise, rotina de ordenha, manejo das pastagens até as ferramentas de gestão como controle financeiro e outros lançamentos de dados. Chamamos toda a família para acompanhar”, declara Pércia.

Com seu perfil comunicativo e apaixonada pelo o que faz, Pércia usa suas redes sociais para divulgar as atividades em campo. A abordagem tem feito sucesso. Seus vídeos explicativos falam sobre atividades básicas e mostram resultados. “Quando começamos um atendimento, o produtor vê o vídeo e sente mais confiança, já sabe o que esperar e o que será feito ali. E quando o produtor sai em algum dos vídeos, ele se sente muito valorizado, chama a família toda pra ver. Tenho muito orgulho do meu trabalho porque acredito que levamos não só conhecimento, mas uma nova perspectiva de vida”, celebra.

COM A PALAVRA, A PROPRIETÁRIA

Daniela Germano: “Amo ser mulher e, assim como no uso da terra, é preciso buscar o equilíbrio, a parceria”. Foto: Arquivo pessoal

Há dois anos, Daniela Queiroz Germano comprou uma propriedade rural no município do Prata, em Minas Gerais. Formada em jornalismo, deixou a cidade para se dedicar à vida rural, resgatando as suas raízes. Foi com o avô que Daniela aprendeu sobre sustentabilidade, sobre como explorar a terra e dar de volta o que ela precisa. Foi ele o primeiro a lhe falar sobre o equilíbrio dos recursos, da terra e dos animais. Com a avó, ela aprendeu que mulher trabalha sim, e muito. E que ela podia fazer o que quisesse, não ficar só na cozinha.

Ao conhecer e aderir ao projeto FIP Paisagens Rurais, Daniela aprendeu a cuidar da propriedade, a estruturar o negócio, a tratar bem da terra, da água e dar atenção ao bem-estar dos animais. Com seis meses de assistência técnica, ela destaca como é importante se capacitar. “A gente tem aprendido muito, começamos do zero e hoje temos 13 cabeças de vaca. Ao todo, são 20 animais na propriedade. Hoje, a gente tem acesso a tudo na roça, não dá para ser amador. A capacitação oferece muitos recursos para gente se desenvolver”, explica.

Atendida pela técnica do Senar de Minas Pércia Rocha, Daniela é só elogios e afirma que elas conseguiram construir uma relação de muita confiança e liberdade, que trouxe muitos benefícios. “Uma mulher apoiando a outra e assim a rede vai crescendo”, diz.

Sobre ser mulher à frente de uma propriedade rural, Daniela destaca a parceria com o marido e a importância da divisão das tarefas. “Como proprietária, enfrento alguns problemas ao dar ordem pros funcionários. Mas eu divido as tarefas com o meu marido. Eu foco mais na gestão e ele fica responsável pela mão de obra, eu com as contas e ele com as tarefas mais pesadas do dia a dia. Amo ser mulher e assim como no uso da terra, é preciso buscar o equilíbrio, a parceria. Não adianta querer medir forças, concorrer com o homem. Estamos no mesmo barco”, declara Daniela.

O PROJETO

O Projeto Gestão Integrada de Paisagens no Bioma Cerrado – FIP Paisagens Rurais é financiado com recursos do Programa de Investimento Florestal (FIP, sigla em inglês) que são gerenciados pelo Banco Mundial. A coordenação é do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com parceria da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), Senar, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Embrapa.